A “Via Sacra” do Alvão e do Marão
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Para se chegar a um objetivo maior, nada como testar soluções e ver o que acontece. Foi isso que aconteceu nesta incursão às serras do Alvão e do Marão.
O programa das festas consistia em caminhar de sexta à noite até domingo de manhã pelas serras do Alvão e do Marão. Cerva, terra do avô materno do Zé Artur, foi a base de partida e de chegada para um percurso que começou por subir ao Alvão, fazer a cumeada em direção a sul com vista para o vale do rio Corgo, (com Vila Real à vista), descer e subir para o Marão e regressar pela vertente oeste do Alvão até ao ponto de partida, numa jornada longa e de desnível a ter em conta.
O calor e o frio
Contávamos com muito calor, o que nem sempre se viria a verificar. O calor em Ermelo, a contrastar com o briol que se fez sentir na serra, conjugado com o vento forte nas cotas mais elevadas, tornaram esta incursão martirizante, já que embora não tenham faltado agasalhos a ninguém, o desconforto era por demais evidente em todos nós. O facto de se ter levado apenas o “chip para tempo quente”, foi claramente insuficiente, já que na realidade fomos também confrontados com o polo oposto. Nem quero imaginar, se ao frio e ao vento se tivesse juntado a chuva… Associados às sensações térmicas, fizeram-se sentir outros efeitos colaterais, a ter em conta neste tipo de jornadas: o gasto de energia e o consumo de água. Se em relação ao consumo de água o tempo até ajudou, tendo em conta a escassez de fontes, cafés e mercearias ao longo da maior parte do percurso, o gasto de energia foi superior ao normal, com a comida a desaparecer a olhos vistos da mochila. No meio deste cenário agreste salvou-se o aconchego da comida quente oriunda das latas de feijoada e de chispalhada, para além da bolonhesa liofilizada.
O correr e o caminhar
Andar é um processo natural e por ser tão básico nem se dá por isso. Quando se corre, caminhar até é fácil, pelo menos assim se pensava. As horas a passar, sem se progredir ao ritmo a que se está habituado, desgastam a cabeça a qualquer um, e a nós não foi diferente. Num percurso feito a caminhar, para além do desgaste mental que se foi acumulando ao longo dos quilómetros, os ossos e os músculos acusavam o esforço para o qual não estavam preparados. Também o organismo não produzia o calor habitual, obrigando a mais roupa do que o costume. Outra sensação que se experimentou ao caminhar, é que sendo uma atividade física de baixa intensidade, estava-se mais vulnerável ao sono, com momentos, em que literalmente se dormia de pé.
O comer e o dormir
Manter um fluxo de energia constante, adequado ao esforço, às condições ambientais e ao estômago foram outros dos aspetos testados. Com uma dieta à base de sandes, fruta, água e isotónico, tendo em conta os condicionalismos, as sensações foram de uma forma geral boas. A privação de água foi o único senão a registar; facto que deverá no futuro merecer outro cuidado no que diz respeito ao planeamento. As estratégias de combate e controlo do sono mereceram também alguma atenção, dadas as “grandes” provas que ai vem e que obrigam a mais do que uma noite em branco.
Postas as coisas assim, se juntarmos todas estas variáveis: – as condições ambientais adversas, a fadiga mental, o desgaste físico acumulado e a privação do sono, o caldo resultante não poderia ser o ideal, mas que deu, ah, isso deu, para retirar ensinamentos muito importantes para as 100+ que ai vem!
Para terminar, um obrigado a todos os companheiros de aventura: Subtil, Coelho, Zé Artur, Paulo Nuno e Pedrosa pela companhia e partilha do saber.
Pela serra acima,
Nuno Neves